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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Insights


  1. Qualidades negativas (mentir, contar vantagem , bisbilhotar, fazer pirraça, e assim por diante) são na verdade, gritos de dor e pedidos de socorro.
  2. Uma boa auto-estima é a mais valiosa propriedade psicológica de um ser humano.
  3. O sucesso ou fracasso nas relações humanas é determinado basicamente pelo sucesso ou fracasso na comunicação.
  4. Experienciar todos os nossos sentimentos de maneira inteira e livre, e expressá-los da mesma forma, são condições necessárias à paz interna e aos relacionamentos significativos.
  5. Não sou pessoalmente responsável pela resolução dos problemas dos outros. Minhas tentativas de resolvê-los apenas deixam a outra pessoa imatura e dependente de mim.
  6. O amor deve ser incondicional; caso contrário, é apenas uma forma de manipulação. O amor incondicional é a única forma de amor que valoriza o ser humano e permite que ele cresça.
John Powell - "Para viver em plenitude"

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Cuidar, compadecer, sacrificar-se...amar


Nastássia Filíppovna - disse o príncipe, vagarosamente e como se estivesse compadecido dela - acabei de dizer-vos ainda agora que tomaria vosso consentimento como uma honra conferida a mim e não a vós. Sorristes àquelas palavras e houve quem risse de nós. Pode ser que eu me tenha expressado de forma ridícula e que me tenha tornado ridículo, eu próprio! Mas penso que sempre entendi o sentido de honra e, portanto, estou certo de que o que eu disse é verdade. Vós vos quisestes arruinar ainda agora irrevogavelmente. E nunca vos perdoaríeis por isso, depois. Mas vós não mereceis censura alguma. Vossa vida não pode ser arruinada assim. Que importa que Rogójin tenha aparecido e que Gavríl Ardaliónovitch vos tenha ludibriado? Por que haveis de persistir nessa obstinação? Repito-vos que quase ninguém faria o que fizestes. Quanto à vossa decisão de vos irdes com Rogójin, estáveis doente quando vos acudiu esse plano. E doente ainda estais; devíeis ir para a cama. Se tivésseis saído com Rogójin, no dia seguinte iríeis ser até lavadeira; não suportaríeis viver com ele. Sois altiva, Nastássia Filíppovna; talvez sejais tão infeliz que realmente vos cuidais digna de censura. Precisais bem quem olhe por vós, Nastássia Filíppovna. Eu olharei por vós. Ainda esta manhã, ao ver o vosso retrato, senti uma coisa assim como se vos estivesse reconhecendo, como se já vos tivesse socorrido... Respeitar-vos-ei toda a minha vida, Nastássia Filíppovna.
O príncipe acabou. E tinha o ar de se estar lembrando de uma coisa súbita. Enrubesceu e então teve consciência da classe e gente em cuja presença dissera aquilo.
O Idiota - Fiodor Dostoiéviski

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um Teste de Fé

Numa noite solitária, nas Rochosas do Colorado, ouvi esta mensagem: "Brennan, você dá completa atenção a determinados membros da comunidade e está sempre com eles, mas oferece apenas uma presença negligente a outros. Os que têm estatura, riqueza e carisma, os que você considera interessantes ou encantadores, belos ou famosos recebem total atenção. Entretanto, as pessoas que você considera comuns ou desmazeladas, os de nível social mais baixo, que executam tarefas servis, os que não são cantados em prosa nem celebrados, estes não são tratados com a mesma consideração. Isso não é irrelevante para mim, Brennan. Sua forma de ser com os outros, no dia-a-dia, independentemente de sua posição, é o verdadeiro teste da fé".

Mais tarde naquela noite, enquanto pescava de sono, imagens contrastantes dançavam na tela da mente: Carlton Hayes, um atleta magnificamente talhado aos vinte e poucos anos, 1,90 de altura e 84 quilos, pula numa cama elástica com o brilho irresistível de um sorriso. Uma multidão se ajunta. Ele passa a pular corda — uma mostra deslumbrante de coordenação, agilidade e graça. Os espectadores dão vivas. "Louvado seja o Senhor", grita o atleta.

Enquanto isso, Moe, um de seus ajudantes, se aproxima com uma garrafa de água. Moe tem pouco mais de cinqüenta anos, tem 1,62 de altura e é barrigudo. Usa um terno amarrotado, camisa com o colarinho aberto, gravata fora do lugar. Moe tem uma pequena faixa de cabelo emaranhado e ensebado, que vai das têmporas até a parte de trás da cabeça, onde desaparece num grumo de cabelo meio preto, meio cinza. O pequeno ajudante está com a barba por fazer. Suas bochechas gordas e caídas, e um olho de vidro fazem os olhos dos expectadores se desviarem rapidamente.

É um bronco patético — diz um homem. Apenas um parasita obsequioso, sugando um artista — acrescenta outro.

Moe não é uma coisa nem outra. Seu coração está enterrado em Cristo, no amor do Pai. Ele se move sem constrangimentos no meio da multidão e entrega graciosamente a água para o herói. Ele se sente ajustado, como uma luva na mão, ao seu papel de servo (foi assim que Jesus se manifestou pela primeira vez a Moe e transformou sua vida). Moe se sente seguro consigo.
Naquela noite, Carlton Hayes faria o discurso principal no banquete da Associação dos Atletas Cristãos, vindos de toda parte dos Estados Unidos. Além disso, seria homenageado com uma taça de cristal, por ser o primeiro atleta a ganhar oito medalhas olímpicas.
Cinco mil pessoas se reuniram no hotel Ritz-Carlton. Celebridades do mundo da política, dos esportes e da mídia estão espalhadas por todo o salão. Quando Hayes se dirige ao pódio, a multidão está quase no fim de uma refeição suntuosa. O discurso do orador é abundante em referências ao poder de Cristo e à imperturbável gratidão a Deus. Corações são tocados, homens e mulheres choram livremente e, então, ovacionam em pé.

Mas, por trás desse cintilante discurso, o olhar vago de Carlton revela que suas palavras não habitam sua alma. O estrelato corroeu sua presença junto a Jesus. A intimidade com Deus se esvaneceu na distância. O sussurrar do Espírito foi abafado pelo aplauso ensurdecedor. Sustentado pelo sucesso e pelo rugido da multidão, o herói olímpico movese facilmente de uma mesa a outra. Ele se engraça com todos, desde os garçons até as estrelas de cinema.

Ao mesmo tempo, num hotel barato, Moe come sozinho sua quentinha congelada. Não foi convidado para o banquete no Ritz-Carlton porque, ele simplesmente não se encaixaria ali. É claro que não seria adequado para um ajudante bronco, com barriga de bujão e um olho de vidro puxar uma cadeira ao lado de pessoas como Ronald Reagan, Charlton Heston e Arnold Schwarzenegger.

Moe senta-se à mesa de seu quarto e fecha os olhos. O amor do Cristo crucificado o invade. Seus olhos se enchem de lágrimas. "Obrigado Jesus", sussurra, enquanto retira a cobertura plástica da lasanha esquentada no microondas. Ele folheia sua Bíblia até o salmo 23.

Eu também estava no sonho. Onde escolhi passar a noite? O impostor alugou um smoking e fomos ao Ritz. Na manhã seguinte acordei às quatro horas da madrugada, tomei um banho, fiz a barba, preparei uma xícara de café e passei o polegar na borda da Bíblia. Meus olhos caíram numa passagem de 2Coríntios: "De modo que, de agora em diante, a ninguém mais consideramos do ponto de vista humano" (5:16; NVI). Ai! Carrego o peso morto do falso eu até mesmo em meus sonhos.

Brennan Manning - O Importor que Vive em Mim.

sábado, 30 de julho de 2011

Rosto e não-rosto



Será que eu já disse? Aprendo a ver. Sim, estou começando. Ainda é difícil. Mas quero aproveitar o meu tempo.
Eu nunca tinha percebido, por exemplo, que existam tantos rostos. Há um número imenso de pessoas, mas o número de rostos é muito maior, pois cada uma delas possui vários.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

É Possível Estarmos Todos Errados?


É possível (...) que não se tenha visto, conhecido e dito nada de real e importante? É possível que se tenha tido milênios para olhar, reflectir e anotar e que se tenha deixado passar os milênios como uma pausa escolar, durante a qual se come fatias de pão com manteiga e uma maçã?
Sim, é possível.
É possível que, apesar das investigações e dos progressos, apesar da cultura, da religião e da filosofia, se tenha ficado na superfície da vida? É possível que até se tenha coberto essa superfície - que, apesar de tudo, seria qualquer coisa - com um pano incrivelmente aborrecido, de tal modo que se assemelhe aos móveis da sala durante as férias de Verão?
Sim, é possível.
É possível que toda a História Universal tenha sido mal-entendida? É possível que o passado seja falso, precisamente porque sempre se falou das suas multidões, como se dissertasse sobre uma aglomeração de pessoas, em vez de falar de uma única, em torno da qual elas estavam, porque se tratava de um desconhecido que morreu?
Sim, é possível.
É possível que se tenha julgado ser preciso recuperar o que aconteceu antes de se ter nascido? É possível que se tivesse de lembrar a cada um que ele, de facto é proveniente de todos os antecessores, tendo ele disso conhecimento e não devendo dar ouvidos a outros que soubessem outras coisas?
Sim, é possível.
É possível que todas estas pessoas conheçam em pormenor um passado que nunca houve? É possível que todas as realidades nada sejam para elas; que a sua vida decorra, desligada de tudo, como um relógio numa sala vazia?
Sim, é possível
É possível que nada se saiba das raparigas que, no entanto, vivem? É possível que se diga «as mulheres», «as crianças», «os rapazes» e não se faça a mínima ideia (apesar de toda a cultura não se faça a mínima ideia) de que há muito que estas palavras não têm plural, mas apenas inúmeros singulares?
Sim, é possível.
É possível que haja gente que diga «Deus» e julgue que se trate de algo comum a todos? - E veja-se apenas dois rapazinhos de escola: um compra um canivete, e o seu vizinho compra outro tal qual no mesmo dia. E uma semana depois mostram um ao outro os dois canivetes, e acontece que eles só muito de longe se parecem - tão diferentemente evoluíram em mãos diferentes. (Ora, diz a mãe de um deles a esse respeito: vocês têm sempre por força de desgastar logo tudo!). Ah, pois: é possível acreditar que se possa ter um Deus sem se recorrer a Ele?
Sim, é possível.
Porém, se tudo isto é possível, se tem mesmo só uma aparência de possibilidade - então, por tudo o que há no mundo, é preciso que aconteça alguma coisa. O primeiro indivíduo, o que teve estes pensamentos inquietantes, deve começar a fazer alguma coisa do que se perdeu; mesmo que seja um qualquer, certamente o menos indicado: mais nenhum há que o possa fazer.

Rainer Maria Rilke, in 'As Anotações de Malte Lauridis Brigge'