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quarta-feira, 11 de março de 2009

Trocandos as Vestes



"Durante anos possuí um elegante terno com paletó, calça e até um chapéu. Considerava-me totalmente garboso nesse conjunto, e estava certo de que os outros eram da mesma opinião.

As calças, talhei-as do tecido de MINHAS BOAS OBRAS, fortemente urdido de TRABALHOS REALIZADOS e PROJETOS COMPLETADOS. Alguns estudos aqui, alguns sermões ali. MUITA GENTE ELOGIAVA MINHAS CALÇAS, e, confesso, EU TINHA A TENDÊNCIA DE PUXÁ-LAS EM PÚBLICO PARA QUE AS PESSOAS PUDESSEM NOTÁ-LAS.
O paletó era igualmente impressionante; tecido de MINHAS CONVICÇÕES. A cada dia, eu me vestia em PROFUNDO SENTIMENTO DE FERVOR RELIGIOSO. Minhas EMOÇÔES eram absolutamente fortes. Tão forte que, para dizer a verdade, MUITAS VEZES EU ERA SOLICITADO A EXIBIR MEU MANTO DE ZELO EM PÚBLICO, A FIM DE INSPIRAR A OUTREM. Claro, EU AQUIESCIA FELIZ.
Enquanto isso, tinha também de expor meu chapéu – um quepe emplumado de SABEDORIA, FEITO POR MINHAS PRÓPRIAS MÃOS, TECIDO COM FIBRAS DE OPINIÃO PESSOAL. EU O USAVA ORGULHOSAMENTE.
Certamente, Deus ESTÁ IMPRESSIONADO COM MINHAS VESTES, PENSAVA EU COM FREQÜÊNCIA. Ocasionalmente, impertigava-me em sua presença para que Ele pudesse elogiar meus trajes feitos sob medida. ELE NUNCA FALAVA. Seu silêncio deve significar admiração, convenci a mim mesmo.
Mas então o meu guarda-roupa começou a deteriorar-se. O tecido de minhas calças esgarçou-se. Minha melhor obra, ei-la desintegrar-se. O que eu fazia já não podia concluir, e o pouco que intentava já não me constituía motivo de orgulho.
Não há problema, pensei. VOU TRABALHAR DURO.
Mas o trabalho duro era um problema. Havia um buraco em meu paletó de convicções. Minha determinação estava puída. Um vento frio golpeou-me o peito. Agarrei meu chapéu e puxei-o firmemente para baixo. A aba rasgou-se em minhas mãos.
Após um período de poucos meses, meu guarda-roupa de justiça própria desfez-se completamente. De cavalheiro vestido sob medida, passei a mendigo esfarrapado. Receando pudesse Deus agastar-se com os meus trapos, remendei-os melhor que pude e cobri meus erros. As roupas porém estavam muito gastas. E o vento era gelado. Desisti. Voltei para Deus. (O que mais podia fazer?)
Numa quinta-feira invernal, entrei em Sua presença, buscando não aplausos, mas aconchego. Minha oração foi débil.
– SINTO-ME NU.
– Você está nu. E tem estado assim por um longo tempo.
O que Ele fez a seguir, jamais esquecerei.
– Tenho algo para lhe dar – disse-me Ele. E gentilmente REMOVEU O RESTANTE DOS FIAPOS, e apanhou um manto – um manto real, uma veste de Sua própria bondade. COLOCOU-O EM TORNO DE MEUS OMBROS. Suas palavras soaram cheias de ternura: – MEU FILHO, AGORA VOCÊ ESTÁ VESTIDO COM CRISTO."

Extraído de "Nas Garras da Graça". Max Lucado. CPAD, 1999.

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